Requerimento assinado pelos colonos da Colônia Itajahy (Brusque) em 2 de dezembro de 1864 e endereçado ao imperador dom Pedro II

 

 

No requerimento os colonos solicitam autorização ao imperador dom Pedro II para a abertura de uma estrada, ligando a então Colônia Itajahy (Brusque) à Villa de Itajahy (Itajaí).

Relatam que a comunicação entre essas localidades se resume à via fluvial (rio Itajaí-Mirim), o que demora vários dias, e que a picada antiga e utilizada para arrastar madeira e sem pontes é muito arriscada para transitar em dias chuvosos.

Ressaltam ainda a exploração a que são submetidos pelos poucos comerciantes da sua localidade na compra e na troca de seus produtos, quando uma via de comunicação até Itajaí poderia lhes proporcionar a oportunidade de exportar a sua produção através do porto, e terem mais alternativas de comércio.

O requerimento foi firmado por dezenas de colonos, dentre os quais Franz Xaver Imhof (antepenúltima assinatura abaixo), que assinava apenas "Xaver Imhof", e ficou conhecido em Brusque como "Xavier Imhof" (consta abaixo apenas a primeira folha de assinaturas).

Após as imagens do requerimento abaixo, há uma transcrição (mantida a ortografia original) para um melhor entendimento, tendo em vista que os documentos estão desgastados pelo tempo.

A leitura da transcrição propiciará uma melhor compreensão das imensas dificuldades enfrentadas pelos heroicos imigrantes que aportaram a Brusque nos seus primórdios.

Pedro Leitão da Cunha, citado no requerimento, foi presidente da província de Santa Catarina, de 26.12.1862 a 19.12.1863.

A sigla "E.R.M.", que consta no final do requerimento, significa "Espera Receber Mercê".

 

 

 

Documento localizado por Roland Imhof no acervo do Museu e Arquivo Histórico do Vale do Itajaí-Mirim - Casa de Brusque

 

Senhor

 

Os abaixo assignados Colonos da Colonia Brusque no Rio Itajahy-mirim, convencidos da augusta benevolência de Vª Majestade, ousem de levar ao pé do throno um tam dedicado como tambem urgente pedido e supplicao que Vª Majestade lhes conseda a graça de attendel-o benevolamente.

Ha quatro annos, que foi fundada esta Colonia, para aonde affluimos em grande numero. A circonstancia de todo territorio era mato virgem sem caminhos fiz com que era inevitavel de empregar quasi um anno em fazer piccadas transitaveis, para conduzir as nossas bagagems a nossos Lotes, que nos tinhão sido entregues pela directoria sem podermos empregar as nossas forças com proveito na lavoura das nossas roças. Reconheicemos que este inconveniente accontece sempre com a fundação primittiva de Colonias novas, e não nos queixamos. Os colonos posteriores a nos, já não tinhão mais tanto de luttar com estes dificuldades e gozando elles quase as mesmas subvenções como nos, pudião adiantar-se nas suas lavouras com mais e julgamos por isto, estarmos com elles em identicos posições e prezisamos tanto como elles ganhar ainda algum jornal, para poder viver. A pouca verba de 500$000 – mensaes, somente concedidas ultimamente para os trabalhos publicos com estradas, pontes etc, mal chega para remediar as urgentissimas necessidades aos mais novos Colonos, nestes serviços empregados. Graças a Providencia, que as nossas terras são boas e nossas colheitas nos fornecem em grande parte as nossas prezições, mas não cheguem enteiramente, para poder comprar as fazendas e os generos que as nossas terras não produzem, a vista que não temos uma communicação à Villa D´ Itajahy, para receber um preço mais elevado para os nossos produtos e comprar as nossas prezisões para a metade do que temos a pagar n´esta Colonia.

A saliente necessidade para a prosperidade de povoações são as vias communicativas externas de commercio e o caminho terrestre désta Colonia de Villa D´Itajahy já foi reconheicido da maior importancia do Exmo. Inv. Presidente Pedro Leitão da Cunha na sua visita n´esta Colonia, como tambem já muita vezes pelo o nosso Director o Barão de Schnéeburg nas suas relatorios. A communicação por hora he somente fluvial e uma viagem para ir e voltar carreçe nas melhores circunstancias quatro ou cinco dias e em tempos contrarios dias incertos, oito, dez e mais, quando a communicação terrestre em caminhos, sómente (ilegível) podia necessitar dois dias. A piccada, que existe da Colonia a Villa D´Itajahy, provem de antigos caminhos de arrastar madeiras e se acha em miseravel estado, sem pontes e nos tempos pluviosos só com verdadeira risca da vida se pode passar.

Majestade Imperial o nosso pedido consiste pelo exposto, que Se sirva, mandar emanar as necessarias ordens para factura da communicação terrestre da nossa Colonia Villa D´Itajahy effectuada por nos, que em maximo tera uma distancia de seis a seite léguas. Essa implorada graça nos ministrara um affortunado progresso, livrando-nos do flagello de não sermos então mais forçados a vender os nossos produtos nas mãoes dos poucos negociantes estabelecidos na Sede da Colonia, por preços absolutamente a descreção délles e de comprar délles em troca as nossas prezisões que as nossas terras não produzem, por preços carissimos. Temos já bastante animaes, para poder exportar os nossos productos em cargeiros para o porto da Villa D´Itajahy, pelo caminho, que pedimos, e que tanto nos falta. O dinheiro que a factura deste caminho custara nos serveria proporçialmente de um beneficio emmenso, com que poderemos satisfazer os nossos indispensáveis misteres (ilegível) a conclusão transitável déste caminho, que nos offerecera os meios de negociar com os nossos productos e manufacturas e nos livrara das mãoes dos negociantes daqui para quais somos trabalhando até esta éppoca.

As gratidões de nos e de nossos filhos pedirão as Benzões de Deos para Vª Majestade e Sua Augusta Familia.

E. R. M.

Colonia Brusque em 2 de Dezembro de 1864