Alma Imhof Podiacki: uma história de vida interessante
Francisco Daniel Imhof
Alma Imhof (*21.03.1903 - Brusque, +6.07.1992 - Florianópolis), era filha de Francisco Xavier Imhof e Elysabetha Butsch e neta dos imigrantes alemães Franz Xaver Imhof e Maria Regina Schmitt.
Alma casou-se com José Schmidt, com quem teve um filho, Arthur Schmidt, nascido em 24.12.1922, em Blumenau, falecido aos treze anos de idade em 23.04.1936, em Brusque, em decorrência de picada de escorpião.
Ficou prematuramente viúva e, sem qualquer herança ou pensão, foi com o seu filho morar na casa de seus pais, que eram agricultores e colhiam na lavoura o necessário à sua subsistência, exceto sal e farinha, que adquiriam no comércio. Seu pai, Francisco Xavier Imhof, além de agricultor, viajava esporadicamente a Lages, fazendo frete com a sua carroça, numa viagem que demorava provavelmente em torno de dez dias para chegar ao seu destino.
Sua família possuía parcos recursos, e, por essa razão, resolveu trabalhar para sustentar o seu filho e ajudar a sua família, porém, naquela época era muito difícil conseguir trabalho em Brusque, em razão de que a economia do município era predominantemente agrícola e se ressentia da falta de empregos.
Seu irmão Carlos Imhof (Calinho) trabalhava no Colégio Catarinense, em Florianópolis, quando tomou conhecimento de que a família do médico alemão Dr. Richard Gottsmann e sua esposa Anne necessitavam de alguém que falasse alemão para cuidar do filho Ricardo Wolfgang Gottsmann.
Alma aceitou o desafio, e viajou de Brusque a Florianópolis numa carroça puxada por uma parelha de cavalos, coberta por um toldo e conduzida pelo seu primo Daniel Xavier Imhof, que fazia o transporte de documentos e encomendas para os Correios entre essas duas cidades, e também transportava pregos produzidos na Capital pela empresa Carl Hoepcke & Cia.
Essa viagem, ocorrida entre 1923 e 1926, durava três dias e se constituía numa autêntica aventura, em razão das dificuldades de todo tipo a enfrentar em seu longo e sinuoso trajeto de estrada de terra batida, composto de muitas curvas, aclives e declives acentuados, cujo percurso perfazia mais de 100 quilômetros.
No primeiro dia de viagem, havia o desafio da subida da serra do Moura, no atual município de Canelinha, que pertenceu ao município de Tijucas até 1962. À noite, ocorria uma parada na localidade de Timbé, na zona rural do município de Tijucas, para pernoite e para alimentação dos cavalos. No segundo dia, nova parada para pernoitar, desta vez na localidade de Tijuquinha, no município de Biguaçu. No terceiro dia, utilizava balsa para fazer a travessia do Continente para a ilha de Florianópolis.
Foram tempos muito difíceis, em que a saudade de seu filho e de seus familiares apertavam-lhe o peito; naquela época, poucas casas tinham energia elétrica e ainda não havia rádio nem telefone em Brusque; a única forma de comunicar-se com sua família era através de carta, que demorava vários dias até chegar ao seu destino.
Trabalhando com essa família, conseguia acumular algumas economias, que enviava com frequência para sua mãe em Brusque. As visitas aos seus familiares eram raras, em função das dificuldades típicas das viagens daquela época. Sua chegada era motivo de grande alegria, pois além de matar a saudade, levava roupa e alimentos para seus familiares.
Uma carta escrita em alemão, sem assinatura, provavelmente de autoria de sua irmã mais velha, Catharina Imhof, relatava:
“Querida Alma, hoje é dia 2 de agosto1, recebemos a tua carta e o dinheiro: 10 mil fiquei para mim, e 30 mil entreguei para a Regina2. Agradeço muito, eu já deveria ter escrito há mais tempo, mas eu estou sempre doente, porém tenho que trabalhar, porque a Florenchzina3 está aqui e a minha ajuda é indispensável. Querida Alma, nosso querido Arthur foi embora, já fomos muitas vezes à sua sepultura, plantamos flores bonitas. Querida Alma, não posso descrever como isso é difícil para mim, as lágrimas caíram sobre a minha carta, ele já estava tão grande, mas o querido Deus o levou! Querida Alma, agora temos que rezar aos Santos do Céu, porque eu creio muito na palavra de Jesus. Querida Alma, os dois passarinhos do Tuli4 eu ainda tenho, e os seus dois coelhos também; quem é que não sente pena! Querida Alma, mando muitas lembranças, escreva para mim brevemente!”
O apego ao pequeno Ricardo Wolfgang Gottsmann, filho de seus patrões, amenizava um pouco a dor da perda de seu filho, e o excelente tratamento que essa família lhe dispensava compensava em parte a saudade da sua família.
Alma Imhof contraiu matrimônio em segundas núpcias com Orlando Theodoro Podiacki em 21 de dezembro de 1940, em Florianópolis, com quem teve três filhos: Lúcia Podiacki, Iolanda Podiacki e Túlio Inácio Podiacki.
O tempo passava, mas sempre que ela ouvia através do rádio ou da TV qualquer menção a Brusque, sua terra natal, ficava muito atenta, na expectativa de obter qualquer novidade.
Ela manteve a tradição de seus antepassados: além da sua grande disposição para as lides domésticas, conservava todo o terreno ao redor de sua casa sempre limpo e repleto de plantações, onde mantinha uma horta e diversas árvores frutíferas, criava aves e cultivava flores.
1. Carta escrita provavelmente em 2 de agosto de 1936, posterior ao falecimento de Arthur Schmidt, filho de Alma Imhof, ocorrido em 23 de abril de 1936.
2. Irmã de Alma Imhof.
3. Pessoa não identificada.
4. Apelido de Arthur, filho de Alma Imhof.
Este artigo foi elaborado com base em informações de Lúcia Podiacki, filha de Alma Imhof Podiacki.